O escorpião e a pessoa (também conhecida como monge)
Rufino Tamayo. Dualidad, 1964. Museo Nacional de Antropología, Ciudad de México.
Para Fábio Lyra, com amor e veneno
Escorpião e amigos desciam rio abaixo –
apressados para um encontro dos bichos e bichas na clareira - e, quando
passavam sob uma ponte, viram um grupo de pessoas caminhando lentamente pela
mata, indo na mesma direção.
Uma das pessoas correu pela margem do rio,
entrou na água e, simplesmente, pegou escorpião para retirá-lo do rio.
Enquanto era retirado, o bichinho o picou, e
devido à dor, o homem deixou-o cair novamente no rio. Seguia o escorpião pelo
rio com pressa, tentando alcançar os outros mais abaixo, quando agora um ramo
de árvore o impediu de seguir e, presas suas patas ao ramo, foi carregado pela
mesma pessoa, deixando-se levar até a margem para entender melhor o que este
pretendia.
Ao chegar em terra, o escorpião se dirigiu até
o grupo de pessoas, mas os outros parados à espera de quem o retirou olhavam
fixamente e contrariados para ele, fazendo gestos e dizendo coisas que não
entendia muito bem.
Embora confuso, o escorpião seguia em direção
ao grupo, mas logo estes viraram as costas e seguiram com seus passos longos
pela floresta, desaparecendo da cena com seus gestos e vozes.
Atrasado, perplexo e confuso, o escorpião
tentou retornar ao rio e, enquanto pensava no ocorrido, quase à margem da
grande correnteza, sentiu a presença da bela cobra coral atrás de si. O
escorpião deixou-se estar tranquilamente para melhor ouvir o som da mata e a
distância da cobra.
Num breve segundo antes do embate final e ainda
desconcertado com tudo o que ocorrera, o escorpião, já com seu ferrão
preparado, pensava consigo: Ah! Existem mais naturezas entre a margem do rio e
a mata do que julgam todas as filosofias!
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